O estado de emergência associado à pandemia COVID-19 que estamos a enfrentar e o isolamento social em que a maioria das pessoas se encontra é uma situação nova e causadora de stress. Neste momento as nossas crianças estão isoladas socialmente e separadas do seu ambiente escolar, da confraternização com os seus amigos, colegas e professores.
Mas, o isolamento social não é uma condição que surgiu agora, ele já está instalado em grupos da nossa sociedade. Esta situação temporária assemelha-se ao que já acontece, por exemplo, na vida de algumas crianças com autismo. O isolamento social é uma realidade que afeta a sua vida familiar, social e escolar. Mas nesta situação o isolamento social é de caráter mais duradouro.
O isolamento social resulta na falta de contacto social ou familiar, ausência de envolvimento na comunidade e barreiras no acesso a serviços. É uma condição que exclui a criança da sua rede social “normal” que muitas vezes a ajuda a lidar com situações stressantes e de frustração.
Os seres humanos são seres sociais e para a maioria das crianças, a escola é a uma arena social importante que as prepara para a vida adulta. Devido à pandemia as crianças não estão com os colegas de brincadeira e as atividades de socialização que integram a sua rotina diária estão suspensas. Já os pais, também estão fisicamente afastados de outros adultos e entidades (creches, escolas ou familiares) que lhes fornecem o apoio que necessitam e que costumavam recorrer para complementar o seu desenvolvimento, acompanhamento e educação.
No caso de algumas crianças com autismo esta situação tem proporções muito maiores, pois de forma inesperada todas as suas rotinas se alteraram, sem uma razão visível, impedindo a sua presença nas únicas tarefas sociais em que estavam envolvidas, tão importantes para a organização do seu comportamento. Independentemente da COVID-19, a realidade do isolamento social é uma constante nas suas vidas, uma vez que apresentam dificuldades em estabelecer relações/criar uma rede social de suporte e integrar atividades de grupo (por exemplo, praticar uma modalidade desportiva). De uma forma geral, as características destas crianças limitam as suas oportunidades para conviver e interagir, fundamental para o seu desenvolvimento enquanto ser humano e para a sua integração gradual na comunidade. O afastamento social não permite criar as bases sociais para sustentar as suas relações, o que acaba por diminuir e degradar a sua rede social, fomentando mais a exclusão.
Não podemos esquecer que as suas famílias também são afetadas. É evidente que estes pais tem preocupações acrescidas e enfrentam diariamente grandes desafios, e de vários tipos, muitas vezes difíceis de gerir e ultrapassar. Um deles é, por exemplo, o suporte social e a oferta limitada de atividades para as suas crianças, o que compromete o seu envolvimento social.
Esta pandemia veio demonstrar o quanto é importante esse suporte e o apoio terapêutico, especializado e profissional. A importância de um acompanhamento próximo, onde é possível um contacto físico e estabelecer ou reforçar a inclusão social (escola, terapias, grupos terapêuticos).
Na génese da APEXA está inerente o combate ao isolamento social. Agora, certamente vamos todos perceber mais facilmente o papel fundamental desta associação na vida dos seus utentes. Estamos neste momento a passar por um período de isolamento social e isso permite colocarmo-nos no lugar de uma família que apresenta restrições constantes ao seu dia-a-dia. Desta forma, a APEXA desenvolve vários projetos direcionados para mitigar estas desigualdades. Entre eles, o Projeto RIA, um projeto que combate o isolamento de crianças com Autismo ao promover apoio terapêutico em contexto de grupo.
Já percebemos como é difícil gerir o isolamento temporário, agora imagine ter de lidar com esta situação ao longo da sua vida. Pense nisso…
Nicole da Palma|Terapeuta Ocupacional
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