Hoje celebramos por todo o mundo o dia internacional do Autismo. Estou a escrever para todos os pais/profissionais/pessoas que contactam com crianças com esta característica para falar-vos sobre a nossa perspetiva terapêutica. Pretendo dar a conhecer o que está por detrás do trabalho desenvolvido com crianças com Perturbação do Espetro do Autismo. O que realmente acontece nas sessões? Desvendar as estratégias que estão inerentes em todas as atividades e brincadeiras desenvolvidas nas sessões.
Podemos dizer que estas crianças percecionam o mundo de uma forma atípica e diferente, com base em dificuldades sensoriais, ou seja, estas crianças sofrem de diversos problemas que se refletem em instruções trocadas e comportamentos desajustados. A função do terapeuta é orientar este livro de instruções e ajustar comportamentos. Mas para isso, temos de recorrer à nossa caixa de ferramentas (estratégias) e descortinar as mais indicadas para cada caso. Depois, à que utilizar as várias ferramentas seleccionadas, umas grandes demais, outras pequenas demais, e outras com estratégias diferentes. Em resumo, o nosso trabalho é encontrar as estratégias que acertam na perfeição. Só assim podemos ajudar as nossas crianças de uma forma mais eficiente.
Acima de tudo, nós percecionamos estas crianças com caraterísticas diferentes e não apenas a criança com autismo. Assim pretendemos, descobrir as capacidades e as fragilidades que compõem o comportamento padrão das crianças. O nosso foco é desenvolver essas capacidades, de forma a mitigar as fragilidades. Nós somos os profissionais que sentimos uma grande euforia, quando a criança atinge um objetivo ou uma tarefa, mesmo que seja mínima. Para nós essa tarefa ou objetivo atingido, é mais uma sinapse, mais uma ligação que se estabelece no cérebro e que vai permitir desencadear muitas mais.
Estas crianças vivem num mundo sensitivo e muito pessoal, que se baseia nas coisas simples que conseguem fazer, mas que significam muito. Com elas é possível aprender a essência e a unicidade de cada indivíduo. Que um simples olhar, toque, sorriso, gesto, vocalização ou interação, mesmo que simples, são tão poderosos e com capacidade de gerar mudança. O ambiente que as rodeia tem uma grande influência nas suas oportunidades de aprendizagem e crescimento.
Estabelecer a relação é fundamental! Pois tudo o que fazemos e aprendemos é no contexto relacional. Desta forma é essencial atribuir um significado a tudo o que a criança faz, cada comportamento é uma comunicação. O desafio é após estabelecer a relação com a criança, esta continue motivada para aprender. É neste momento que utilizamos as nossas ferramentas de modo a manter o seu interesse, de uma forma criativa e dentro das estratégias definidas. Para isso, exploramos o comportamento, ao colocar o desafio certo no momento certo. É importante preparar o ambiente, o grau de exigência, os materiais/recursos a utilizar. Tudo para que as ferramentas sejam adequadas, de forma a encorajar a iniciativa da criança e todo um conjunto de fatores que resultem em experiências de sucesso. Quanto mais sucesso a criança alcançar, mais disponível vai estar para a relação terapêutica, para as atividades e para superar barreiras. Pois só assim, a criança e o terapeuta, juntos podem travar grandes batalhas e confrontos.
O que as pessoas não veem?
Muitas vezes, durante a sessão, dou por mim a utilizar a minha lupa de detetive e aumentar/expandir aquilo que estou a observar. Vou seguindo todas as pistas e observo os detalhes que são necessários para compreender as razões de determinado comportamento nestas crianças. Neste processo o que se vê é apenas a ponta do iceberg. Há muitos aspetos que não são visíveis para todos, é importante que saibam que por detrás de uma sessão existe sempre muita preparação associada.
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