Ainda seguindo a relação com a Parentalidade Positiva, esta semana vamos falar sobre a posição que devemos adotar quando a criança tem um comportamento desadequado. Normalmente, atribui-lhe um castigo ou uma consequência?
E já agora, quando lê estas duas palavras (“consequência” e “castigo”), qual delas lhe transmite um valor mais “pesado”?
Vamos começar por ver a diferença entre as duas palavras:
Castigo: Quando a criança faz algo que não deveria e causa irritabilidade nos pais, geralmente o castigo acontece logo no momento a seguir. Os pais, como forma de correção, aplicam-lhe uma pena (por vezes desproporcional) para que aprenda e não volte a repetir o comportamento. Para a criança, o castigo é visto apenas como uma punição por ter feito algo errado, e sem escolha, cumpre-o.
Por exemplo: “Se não comeres tudo não vais brincar”, “Tiraste más notas, agora ficas sem telemóvel!”, “Estragaste a bicicleta, vais ficar sem ver televisão durante uma semana!”.
Consequência: Longe da raiva e da irritação do castigo, tanto do lado dos pais como dos filhos, aplicar uma consequência é dar uma resposta direta a uma atitude que a criança teve. Assim sendo, ao invés de punir a criança, o objetivo é educa-la. Ela aprende que todas as atitudes geram um resultado e todos os comportamentos e ações têm consequências: umas boas e desejáveis, outras menos boas que nos custam mais a aceitar.
Mas, dentro da consequência existem dois tipos:
1. Consequência natural: é aquilo que resulta da ação de uma criança, caso não houvesse a intervenção do adulto. No entanto, há situações em que os pais não podem deixar as consequências naturais acontecerem: quando representam perigo ou quando demorarão muito tempo a acontecer.
Por exemplo: se a criança parte um brinquedo de propósito, irá ficar sem ele; Se não quer vestir o casaco, irá ter frio; Se não comesse ao almoço, iria ter fome, pois só iria comer novamente na hora habitual do lanche.
2. Consequência lógica: é planeada pelos pais como consequência negativa, ligada a um comportamento incorreto que a criança teve.
Por exemplo: se a criança parte uma janela, uma consequência lógica seria ela ter de fazer uma série de tarefas para juntar o dinheiro necessário para pagar os estragos; Se a criança não arrumou o quarto, então ficará assim, porque ninguém o arrumará por ela; Se não colocou a roupa no cesto, não será lavada; Se viu televisão depois do tempo permitido, então no dia seguinte, ser-lhe-á descontado esse tempo.
Assim sendo, verifica-se que o castigo não tem uma ligação lógica com o comportamento/situação, logo, não ensina e não proporciona à criança o desenvolvimento da responsabilidade pelos atos que cometeu. Se o comportamento se alterar após o cumprimento de um castigo, é provável que seja por medo dos mesmos e não porque tenha aprendido alguma coisa. Além disso, gera sentimentos de raiva, injustiça e agressividade. A criança não percebe porque é que lhe foi retirada uma coisa que gosta e que nada tem a ver com o “erro” que cometeu.
Já quando se recorre às consequências, os pais estão a agir no sentido de ajudar os filhos a aprender com os seus erros, mas sem o uso de gritos, força física e discussões. Aplicar consequências proporcionais ao que foi feito é uma questão de hábito, de criar uma disciplina, de educar. Os castigos desproporcionais podem estimular o medo, e não o respeito.
Educar exige paciência e dá muito trabalho. Mas, se escolheu ter filhos, é preciso criar tempo e disponibilidade para isso.
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